domingo, 5 de dezembro de 2010

Comer Orar Amar I

"A seguir, esvaziam-me os bolsos de qualquer alegria que lá tivesse. A depressã chega mesmo ao ponto de confiscar a minha identidade; mas ela faz sempre isso. Depois, a solidão começa a interrogar-me, o que me aparvora porque se prolonga sempre horas a fio. É educada mas inflexível e acaba sempre por me apanhar em falso. Pergunta-me se tenho conhecimento de alguma razão para estar feliz Pergunta porque estou sozinha esta noite. (...) Regresso a casa, esperando afastá-las, mas aquelas duas palermas continuam a seguir-me. A depressão agarra-me firmemente o ombro e a solidão assedia-me com as suas perguntas. Nem sequer me dou ao trabalho de jantar, não quero que me vigiem. Também não quero deixá-las subir as escadas até ao meu apartamento, mas conheço a depressão e sei que não há como impedi-la de ir se assim o decidir.
– Não é justo virem aqui – digo à depressão. – Já saldei as contas convosco. Cumpri a minha pena quando estava em Nova Iorque.
Mas ela limita-se a brindar-me com aquele sorriso sombrio e instala-se na minha cadeira favorita, põe os pés em cima da mesa e acende um cigarro, enchendo tudo de fumo. A solidão observa e suspira, depois deita-se na minha cama e tapa-se com os cobertores, totalmente vestida, de sapatos e tudo. Já sei que vou ter de dormir com ela outra vez esta noite.”
Elizabeth Gilbert, Comer Orar Amar

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