segunda-feira, 18 de outubro de 2010

(sobre)viver

18 de Outubro de 2010, 14h26
(a música a tocar no mp3 e meia dúzia de lágrimas teimosas)

Estou sem ti. Não quer dizer que não esteja todos os dias, mas hoje (aqui) sinto-me mais sozinha do que nunca. Sentada (no mesmo banco onde antes estiveste tu deitado no meu colo) lembro-me da conversa de ontem sobre os fantasmas do passado. Tenho um segredo para te contar, meu anjo: os fantasmas não existem. Eles são apenas partidas que a nossa imaginação nos prega e nós temos a capacidade de acabar com eles a qualquer momento. É por isso que te digo que só tu é que me importas... para que não tenhas medo de destruir todos os fantasmas que fazem parte do (meu) passado. Já aprendi tanto contigo, mas o valor das palavras foi, sem dúvida, a lição que mais me marcou. Se existem coisas que não mais voltam atrás, as palavras por nós ditas são um bom exemplo disso... eu já descobri isso um pouco tarde.

Tenho saudades tuas! Do teu abraço apertado, da tua voz e de olhar para ti. Como é que se pode viver sem o nosso porto de abrigo? Sem o porto seguro que nos acolhe nos dias de tempestade? É suposto ele estar mesmo ali ao virar da esquina para nos receber de braços abertos, mas o meu não está. Tu não estás aqui. E agora, o que é que eu faço? Fico cá fora com vento e chuva? E se trovejar? Eu tenho medo de andar na rua em dias de trovoada. No entanto, maior que esse medo é o de que tu nunca chegues para me proteger. Ai sim, ficarei sozinha! E sabes porquê? Porque ninguém me compreende como tu, ninguém me ouve como tu ouves e ninguém se preocupa tanto comigo dia após dia. És (tens) o meu melhor segredo e a minha única certeza num momento em que o mundo gira de pernas para o ar.

Não me deixes.

4 comentários:

  1. Os textos, todos eles, fazem-me chorar.

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  2. Oh sarinha, devo dizer que adorei cada palavra que escreveste. É dificil precisarmos tanto de alguém na nossa vida, e essa pessoa não estar aqui, não sabermos se vem ou quando vem. Mas no final de contas, sabemos que não ninguém que nos viva tão bem quanto essa pessoa, e por isso, vale tudo a pena. :)

    Quanto ao que dizes sobre o poder das palavras, não mudava nem uma virgula!
    Um beijinho grande*

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  3. "Tinham passado três anos quando conheceu Jorge. Ao princípio não lhe agradou. Não gostava dos homens barbados; depois percebeu que era a primeira barba, fina, rente, muito macia decerto; começou a admirar os seus olhos, a sua frescura. E sem o amar sentia ao pé dele como uma fraqueza, uma dependência e uma quebreira, uma vontade de adormecer encostada ao seu ombro, e de ficar assim muitos anos, confortável, sem receio de nada. Que sensação quando ele lhe disse: "Vamos casar, hem!" Viu de repente o rosto barbado, com os olhos muito luzidios, sobre o mesmo travesseiro, ao pé do seu! Fez-se escarlate, Jorge tinha-lhe tomado a mão; ela sentia o calor daquela palma larga penetrá-la, tomar posse dela; disse que sim; ficou como idiota, e sentia debaixo do vestido de merino dilatarem-se docemente os seus seios. Estava noiva, enfim! Que alegria, que descanso para a mamã!

    Casaram às oito horas, numa manhã de nevoeiro. Foi necessário acender luz para lhe pôr a coroa e o véu de tule. Todo aquele dia lhe aparecia como enevoado, sem contornos, à maneira de um sonho antigo - onde destacava a cara balofa e amarelada do padre, e a figura medonha de uma velha, que estendia a mão adunca, com uma sofreguidão colérica, empurrando, rogando pragas, quando, à porta da igreja, Jorge comovido distribuía patacos. Os sapatos de cetim apertavam-na. Sentia-se enjoada da madrugada, fora necessário fazer-lhe chá verde muito forte. E tão cansada à noite naquela casa nova, depois de desfazer os seus baús! Quando Jorge apagou a vela, com um sopro trêmulo, os luminosos faiscavam, corriam-lhe diante dos olhos.

    Mas era o seu marido, era novo, era forte, era alegre; pôs-se a adorá-lo. Tinha uma curiosidade constante da sua pessoa e das suas coisas, mexia-lhe no cabelo, na roupa, nas pistolas, nos papéis. Olhava muito para os maridos das outras, comparava, tinha orgulho nele. Jorge envolvia-a em delicadezas de amante, ajoelhava-se aos seus pés, era muito dengueiro. E sempre de bom humor, com muita graça, mas nas coisas da sua profissão ou do seu brio tinha severidades exageradas, e punha então nas palavras, nos modos uma solenidade carrancuda. Uma amiga dela, romanesca, que via em tudo dramas, tinha-lhe dito: "É homem para te dar uma punhalada". Ela que não conhecia ainda então o temperamento plácido de Jorge, acreditou, e isso mesmo criou uma exaltação no seu amor por ele. Era o seu tudo - a sua força, o seu fim, o seu destino, a sua religião, o seu homem! Pôs-se a pensar, o que teria sucedido se tivesse casado com o primo Basílio. Que desgraça, hem! Onde estaria? Perdia-se em suposições de outros destinos, que se desenrolavam, como panos de teatro: via-se no Brasil, entre coqueiros, embalada numa rede, cercada de negrinhos, vendo voar papagaios!"

    era disto que te falava :P

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  4. ás vezes dá-me um bocadinho de saudades x)

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